Além do Seminário da ABCIC, primeira parte das palestras do 2o dia do Modern Construction Show abordou barreiras da mão de obra, tributação, financiamento e contratos públicos.
Quatro temas fundamentais para a viabilidade da construção industrializada foram tratados no segundo dia do Modern Construction Show, primeiro grande evento no país a reunir todos os fornecedores do segmento: a falta de mão de obra, os desequilíbrios tributários entre construção tradicional e industrializada, os desafios do financiamento a consumidores e construtores e, por fim, a adaptação da contratação da obra pública à realidade da construção industrializada.
O credenciamento ainda pode ser feito: (Credenciamento – Modern Construction Show)
O presidente da Abramat – Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção, Rodrigo Navarro, que encerrou a primeira parte dos conteúdos desta quarta-feira (2), resumiu assim esses quatro temas: “Todos eles esbarram no mesmo ponto: legislação e ambiente regulatório”.
Segundo Ricardo Monteiro, diretor técnico da incorporadora Setin e membro da Abrainc -Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias, o setor está ávido por inserir a industrialização em seus processos produtivos, mas, além dessas barreiras citadas acima, existem outras ligadas ao próprio setor, como o momento em que a industrialização é incorporada aos projetos.
Mão de obra envelhecida
“As indústrias, em geral, tentam vender a construção industrializada no canteiro, quando o que dá para fazer é emendar o projeto. E, aí, vira uma colcha de retalhos. A industrialização deve começar no estudo de viabilidade, bem no início de tudo, quando o custo e o tempo são zero’, afirma.
Falando sobre o problema da mão de obra, Monteiro cita o envelhecimento dos trabalhadores da construção. Em 2016, as idades médias eram de 40 anos, para mestre de obras; 38, para oficiais, e 30, para engenheiros. Hoje, essas idades são, respectivamente, 46, 40 e 37 anos. E a idade média do trabalhador do setor passou de 38 anos para 41. “O filho do empreiteiro não quer ser mais empreiteiro, o filho do pedreiro não quer mais ser pedreiro”, conta o executivo da Setin, salientando que é preciso criar motivos para os jovens abraçarem o setor da construção.
Uma saída pode ser o que está fazendo o empresário Roberto Justus, que esteve presente no MCS. Sua empresa, o Grupo SteelCorp, que desenvolve empreendimentos com construção modular em light steel frame, está lançando uma escola para formar e aperfeiçoar profissionais especializados em construção industrializada. “A Steel Academy é a nossa academia focada na formação de mão de obra especializada. Filho de pedreiro quer ser Uber, hoje em dia. Estamos formando menos engenheiros também, é um mercado antigo. Sai de cena o pedreiro e entra o montador. Também faremos curso para arquiteto, pedreiro, projetistas e técnico de engenharia”.
Outro fator que pode ajudar a atrair os jovens para a construção industrializada é o uso intensivo do BIM (Modelagem da Informação da Construção, na sigla em inglês), técnica que cria uma construção virtual equivalente à edificação real, permitindo simular a edificação e entender seu comportamento antes de a construção real ter sido iniciada, com visualização tridimensional que auxilia nas decisões de projeto.
Tributos descompensados
Por sua vez, André Rebelo, diretor executivo de Gestão, Infraestrutura e Construção Civil da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), ao tratar do tema “Tributação e Construção Industrializada”, disse que a reforma tributária poderá acabar com a atual assimetria tributária entre a construção tradicional e a industrializada (ou off site), que favorece a primeira. Isso tornará ainda mais atraente a construção industrializada, uma vez que a produtividade deste segmento é mais alta.
Para Rodrigo Navarro, isso é um fator fundamental para que a construção industrializada seja adotada amplamente. “Qualquer mudança de paradigma só passa a ser adotada se houver lógica econômica. Se o empreendedor não vê sentido econômico em seguir determinado caminho, ele não segue, mesmo que ele seja mais bonito ou mais sustentável”, complementa Navarro.
Agilidade não pode matar financiamento
Outro desafio importante para o ramo da construção é a questão do financiamento. Hoje, o setor de incorporação e construção imobiliária joga com o longo ciclo do setor para facilitar o pagamento, sobretudo pelas dificuldades financeiras de boa parte da população. De 20 a 30% do valor do imóvel são pagos como sinal à incorporadora, entre o lançamento e a entrega das chaves. Os restantes 70 a 80% são pagos depois, por meio de financiamento bancário, no maior número possível de parcelas.
Mas a construção industrializada reduz muito esses prazos, o que pode diminuir o tempo de pagamento e dificultar a vida do comprador. “O menor prazo da construção industrializada não pode impedir o financiamento. E há soluções para isso”, afirma Hamilton Leite Jr., head da São Paulo da Brain Inteligência Estratégica. Segundo ele, estão sendo estudadas propostas como financiamento de 100% do projeto, tanto para a incorporadora, como para o comprador. Ou o envolvimento de fundos privados, que aceitam mais riscos do que os bancos.
ABCIC promove dois painéis
Ainda no segundo dia do Modern Construction Show, a ABCIC promoveu dois painéis de extrema importância. Segundo Íria Doniak, presidente-executiva da ABCIC, o primeiro teve a participação de construtores que adotam sistemas pré-fabricados de concreto, que debateram com o público a sua experiência. O segundo tratou da aplicação das peças pré-fabricadas de concreto nas obras de infraestrutura, e teve a participação do secretário de Obras do Estado de São Paulo, professor Fernando Stuck, com grande experiência na área de infraestrutura, obras de metrô, grandes pontes, viadutos e túneis.
“A importância desses dois painéis foi demonstrar que a industrialização é aplicável tanto em obras relativas a edifícios residenciais e comerciais quanto na mobilidade urbana e na infraestrutura viária, que são complementares. “Até porque, para o desenvolvimento das cidades, precisamos da industrialização de hospitais, creches etc.”, conclui Íria Doniak.