Último dia do Modern Construction Show é marcado pela forte presença de especialistas, com palestra internacional
O Modern Construction Show encerra sua primeira edição com debates enriquecedores sobre a construção industrializada no Brasil. O evento ConstruMetal Pocket trouxe palestrantes de elevado conhecimento técnico e vasta experiência na área, para disseminar conhecimento aos participantes.
A palestra do engenheiro Sergio Scheer, fundador e membro do Conselho Consultivo do BIM Fórum Brasil e diretor técnico da Building SMART Brasil, abriu os trabalhos, com o tema ‘BIM e a industrialização da construção’. Ele falou sobre a necessidade de vencer problemas e metas de coordenação modular, ideias de plataforma para HIS com padronização, customização e personalização.
O decreto 11.888/2024 estabelece a nova estratégia de BIM e sobre o fomento da construção industrializada. “Entre as vantagens do BIM, podemos destacar o tempo de construção, a qualidade dos trabalhos, além de segurança, valor e sustentabilidade. Os benefícios ficam por conta dos modelos 3D e integração, colaboração, precisão, gerenciamento eficiente, técnicas modernas de construção e softwares”, diz.
Scheer também citou alguns exemplos de construção em Light Wood Frame e construção modular, com obras realizadas respectivamente pelas empresas Tec Verde e Oak Off Site.
Conformidade técnica
Quais impactos as não-conformidades técnicas podem gerar na industrialização? Essa foi a pergunta que norteou a palestra ministrada por Vera Fernandes Hachich, sócia da Tesis (Tecnologia de Sistemas de Engenharia). De acordo com ela, o uso de produtos não conformes gera perda de confiança no mercado e precisam, de fato, ser combativos.
“Existem vários programas setoriais de qualidade, como o Siac (Sistema de Qualificação de Empresas e Materiais), e o Sinat (Sistema Nacional de Avaliações Técnicas). O trabalho de normalização precisa ser permanente, já que as normas mudam, os materiais evoluem e o trabalho é contínuo nesse sentido”, explica. Além disso, a fiscalização da qualidade dos produtos utilizados em todo o Brasil é feita em cidades de diferentes portes e nas periferias dos centros urbanos, com publicação dos resultados em relatórios setoriais que mostram quem trabalha de maneira condizente com as normas, ou fora delas.
Produtividade na construção industrializada
Em sua palestra, o engenheiro Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, livre docente pela Escola Politécnica da USP, defende que a industrialização começa com organização, mecanização e pré-fabricação. “A produtividade é a arte de empregar menos esforço, para realizar o mesmo trabalho e obter os mesmos resultados. Ela pode variar conforme o produto, o processo e a organização do trabalho”, define.
Ubiraci falou também sobre os custos diretos e indiretos que precisam ser considerados numa obra e enfatizou que, para se chegar a níveis elevados de produtividade, é necessário pensar o canteiro de obras muito além dos produtos industrializados, incluindo layout, microplanejamento, processos e organização.
Foco em sustentabilidade
Os cientistas são categóricos em afirmar que a ocorrência dos eventos decorrentes das alterações climáticas está cada vez mais presente nos dias atuais. O futuro da vida no planeta depende da redução de consumo de combustíveis fósseis e da mudança em todo o ecossistema industrial de forma padronizada.
“É preciso medir quantitativamente os impactos, desenvolvendo soluções inovadoras escaláveis, reduzindo significativamente os efeitos e melhorando a vida das pessoas. A precificação do carbono torna viável as tecnologias inovadoras de baixo carbono, mas isso vai fazer subir o preço de produtos que emitem CO2”, afirma o professor titular de materiais e componentes de construção da Escola Politécnica da USP, Vanderley John. Ele ministrou a palestra ‘Sustentabilidade na construção industrializada’.
Para o professor, a sustentabilidade não se resume a questões ligadas ao meio ambiente, é preciso considerar fatores econômicos e economia. “As condições de trabalho atuais na construção precisam evoluir, com potencial redução dos impactos ambientais, de emissões e menos uso dos recursos naturais”, defende.
Construções híbridas
O Modern Construction Show trouxe, no ultimo dia de palestras, um convidado internacional: Enrico Mangoni, CEO do Studio Mangoni da Itália, que apresentou o tema ‘A importância das construções híbridas/ mistas para uma construção moderna e sustentável’. Para ele, o sistema industrializado, para ser diferenciado, deve estar ligado a um processo de montagem eficiente.
“Se na indústria não é mais possível ter grandes estoques, imagine na construção industrializada. O processo nessa área se assemelha de maneira mais próxima à montagem de um veículo, que o da construção de uma casa”, diz ele, acrescentando um dado de uma pesquisa recentemente divulgada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) onde aproximadamente 36% das empresas ouvidas não industrializam por não terem projetos.
De acordo com Mangoni, muitas certificações estão ligadas somente às emissões de carbono, mas é preciso considerar soluções relacionadas a menor consumo de água, transporte, menor geração de resíduos e redução de materiais. “Devemos pensar mais em construções híbridas, com utilização de diferentes materiais, como a boa composição do aço com o concreto”, diz.
Infraestrutura em foco
Durante o evento, alguns especialistas realizaram o debate ‘Infraestrutura: desafios de desenvolvimento de pontes e passarelas em aço/ mista”, mediado pelo especialista em infraestrutura do Grupo CCR, Daniel Ferraz. A roda foi composta por Marcos Monteiro, secretário municipal de Infraestrutura e Obras de São Paulo (SIURB); Jose Augusto Cordeiro, diretor executivo na Brafer Construções Metálicas; Tiago José dos Santos, sócio-diretor no HMNC Engenharia; e Saimon Toniazzo, coordenador de Orçamento e Viabilização na Metasa.
De acordo com Marcos Monteiro, atualmente as estruturas metálicas e as pré-moldadas estão contempladas na tabela da SIURB. “O importante é que o projeto seja bem desenvolvido e especificado, para justificarmos adequadamente, assim como o preço. A construção industrializada possibilita alguns facilitadores, principalmente por evitar aditivos contratuais e retrabalhos”, diz.
Entre as obras nessa modalidade realizadas na capital paulista estão a Ciclopassarela Bernardo Goldfarb, o Terminal Itaquera, a Parada Bidirecional Padrão BRT, a Passarela Washington Luiz, e a requalificação e restauro do viaduto Santa Efigênia.
Por sua vez, José Augusto Cordeiro explanou algumas obras da Brafer, como a construção da Ponte Ferroviária FICO, que possui diversas localidades com vãos múltiplos de 32 metros e 57 toneladas cada; a Ponte Ferroviária Rio Grande SP/ MG, com 125 metros de vão livre e 1100 toneladas, feita em montagem por empurramento; a Ponte Ferroviária Rio Tocantins (duplicação), com vão de 68 metros e 550 toneladas; além da Ponte Rodoviária Transolímpica/ RJ, com vão de 80 metros, montagem em balanços sucessivos sobre sete linhas férreas operantes.
Sustentável leveza do aço
Nas obras executadas a partir do Light Steel Framing (LSF), as estruturas são constituídas de aço galvanizado, em substituição ao concreto armado. Esse tema também foi debatido no painel ‘Light Steel Frame: A sustentável leveza do aço na construção’, com os especialistas Marcelo Ros, gerente de desenvolvimento de negócios da Framecad; Fabio Din, diretor de Light Steel Frame da ABCEM e especialista em inteligência comercial para os mercados de Drywall; Fabio De Gerone, diretor executivo da Santo André Distribuidora Industrial e vice-presidente de Light Steel Frame da ABCEM; e Maria Thereza B. Castro, engenheira mecânica, especialista em sistemas construtivos leves e diretora técnica da ABCEM.
Nesse método construtivo, os perfis metálicos são conformados a frio e produzidos de maneira muito precisa para suportar as cargas horizontais e verticais. Já o fechamento externo é realizado com o uso de painéis fixados aos montantes, placas fabricadas de matéria-prima cimentícia ou de Oriented Strand Board (OSB). Por outro lado, nas faces internas, a solução mais comum é o drywall (chapas de gesso). Além disso, o sistema pode ser aprimorado com materiais termoacústicos para um ambiente mais confortável.
O Light Steel Framing é indicado para as mais variadas tipologias de projetos, desde os de grande porte (como galpões, aeroportos e estádios) até aqueles menores (residências e pequenos prédios comerciais, por exemplo). Dependendo da construção, é possível usar o sistema em conjunto com outras soluções. Isso pode acontecer em empreendimentos com muitos pavimentos, com a combinação do Steel Frame (aço pesado) com o LSF — utilizado de maneira complementar para a execução das paredes internas da edificação.
Edifícios multiandares
O debate ‘Edifícios multiandares em estrutura de aço/mista’ encerrou o debate do evento Construmetal Pocket, no Modern Construction Show. A apresentação falou sobre a revolução dos arranha-céus potencializada pela construção industrializada para a urbanização sustentável e contribuindo para os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU).
O debate contou com a participação de Cezar Mortari, vice-presidente do Sinduscon-GO, conselheiro do CBIC, FIEG e do CODESE-GO, e diretor-técnico da IronBuild; Gustavo M. Chodraui, gerente técnico de Orçamento da Codeme Engenharia; Heloisa Maringoni, proprietária da Cia de Projetos; e Ricardo Hallal Fakury, professor titular da UFMG.
Nos edifícios multiandares com estrutura em aço, as peças que compõem o arcabouço da edificação são fabricadas em ambiente industrial e têm dimensões específicas para atender às demandas da obra. Esses elementos chegam prontos ao terreno que receberá o empreendimento, sendo que a sua montagem normalmente acontece por meio de ligações parafusadas ou soldagem. Assim, é possível reduzir o tempo do processo construtivo em até 40% na comparação com os procedimentos tradicionalmente adotados pelo mercado no território nacional.
Também colaboram para maior agilidade o fato de a fabricação das estruturas em aço ser simultânea à execução das funções, a diminuição no número de escoramentos e fôrmas, a possibilidade de realizar diferentes trabalhos ao mesmo tempo e a montagem que não precisa ser paralisada no caso de chuvas. Somando todos esses fatores, é bem possível que a edificação possa ser entregue de maneira muito mais rápida. Assim, o investimento começa a render os retornos financeiros esperados em um prazo menor que o esperado.